Quando as criptomoedas são o assunto, é muito comum tratarmos da mineração desse recurso digital e associá-lo a um processo que demanda bastante energia e poder computacional — mas cujo funcionamento nem sempre fica claro. Enquanto o termo usado remete às velhas minas de extração de carvão, ouro e outros minerais raros, o processo que acontece nesse mundo não poderia estar mais distante disso.
Embora a mineração de criptomoedas — incluindo o Bitcoin, a mais popular e rentável entre elas — envolva a geração de novas moedas, ela vai além disso. O processo também está ligado ao processo de validação da tecnologia, garantindo que ela se mantenha à prova de fraudes e possa ser usada de maneira transparente dentro do blockchain, plataforma que registra operações de maneira descentralizada.
Como funciona a mineração?
A mineração de Bitcoins é nada menos do que a resolução de problemas matemáticos em meio a uma competição com incontáveis outras pessoas que estão tentando chegar à mesma solução. A primeira pessoa a chegar à resolução recebe a recompensa pelo trabalho, que demanda bastante poder de processamento. Quem tem mais poder computacional conta com mais chances de terminar a corrida à frente dos outros.
O processo acontece todo na base da tentativa e erro: ou seja, para se chegar a uma solução (que é totalmente aleatória), muitas vezes são necessários trilhões de tentativas e erros. Ao minerador que consegue vencer essa barreira, são atribuídas 6,25 unidades da moeda — R$ 1,25 milhão, na cotação atual do Bitcoin.
As respostas obtidas com a mineração (chamadas de hash, ou prova de tabalho) têm como objetivo assegurar a segurança das transações. Elas checam se há moedas suficientes para a transferência e se a parte receptora está apta para recebê-las, com a atribuição de uma característica única a cada movimentação. Tudo isso garante a segurança do processo, impedindo que códigos maliciosos gerem fraudes e desvios.
Cada criptomoeda tem suas próprias características, mas a maioria delas funciona de forma semelhante. No caso do Bitcoin, as equações matemáticas se renovam a cada 10 minutos e há um limite total de moedas que podem ser mineradas — 21 milhões, das quais 18,6 milhões já foram obtidas até o momento. Por dia, atualmente, são mineradas 144 novas moedas.
Assim como acontece com o diamante e outros minerais raros, a escassez, raridade e dificuldade ligada ao processo de obtenção ajudam a explicar por que o Bitcoin é tão valioso. Se em 2009 era possível obter uma unidade investindo somente US$ 1 (R$ 5,05, na cotação atual), atualmente é preciso despender mais de US$ 39 mil (R$ 196 mil) para isso — o preço já foi ainda maior, com um pico de US$ 63 mil (R$ 318 mil) em abril de 2021.
Vale a pena minerar por conta própria?
Embora pareça que a mineração do Bitcoin está se aproximando de seu limite, na prática as coisas são diferentes. A cada quatro anos, é diminuída pela metade a quantidade de moedas que podem ser mineradas, o que significa que todas as 21 milhões só devem estar plenamente disponíveis em 2140 — quanto mais próximo do limite, mais complexo e competitivo deve se tornar o processo.
Embora o mercado em si seja lucrativo e aberto para qualquer pessoa participar dele, isso não significa necessariamente que indivíduos vão conseguir lucrar muito somente na base da mineração. Uma simulação feita no site Nice Hash (um dos inúmeros que prometem facilitar o processo para usuários comuns) mostra que um PC equipado com um processador Core i9 9900 K e uma placa de vídeo NVIDIA GeForce 3080 (sem limitador de desempenho) consegue trazer lucros mensais de pouco mais de R$ 1 mil, descontando a conta de luz.
Enquanto isso pode parecer um lucro fácil, é preciso levar em consideração o fato de que a mineração é um processo intenso e capaz de desgastar componentes rapidamente. Em outras palavras, sua CPU e placa de vídeo topos de linha provavelmente vão ter que ser substituídos em pouco tempo, e você vai ter que tirar os gastos de renovação de seus lucros.
Como alternativa, é possível recorrer a mineradores dedicados, conhecidos como ASIC Miners. Especializados na tarefa, eles têm custo médio de US$ 10 mil a US$ 15 mil (R$ 50 mil a R$ 75 mil) e trazem retornos maiores do que um computador convencional. Mesmo assim, também demoram a pagar o investimento necessário e não devem ser vistas como opção para quem não tem dinheiro sobrando para investir.
Como atualmente é difícil que a mineração individual traga resultados, é comum que pequenos mineradores se reúnam nos chamados pools de mineração, que aumentam o poder de processamento total e tornam o processo mais lucrativo. No entanto, quem realmente ganha dinheiro com a mineração de Bitcoin são empresas grandes, que conseguem fazer investimentos milionários em verdadeiras fábricas de mineração, recheando galpões com componentes de alto desempenho — que, muitas vezes, se tornam escassos para o mercado consumidor.
Dessa forma, quem deseja entrar no mercado de forma individual atualmente encontra nas empresas especializadas um investimento mais atraente e potencialmente lucrativo. No entanto, é preciso tomar cuidado: com a volatilidade do segmento e os grandes lucros gerados pelo Bitcoin, golpes com a criptomoeda são comuns, e é preciso investigar detalhadamente o histórico de empresas antes de decidir investir nesse mercado.
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